Viajar sozinha pela primeira vez: sonho e coragem

Viajar sozinha: minha primeira vez

Em 2015, fiz o meu primeiro mochilão para o Butão e Tailândia de quase dois meses, a primeira vez que ia viajar sozinha. Tinha um grande sonho a realizar: conhecer de perto o país da felicidade, como era a realidade daquela política de Felicidade Interna Bruta, como era a rotina, a visão de mundo, hábitos e costumes daquele país que me despertava tanta curiosidade. Era um sonho que demorou alguns anos para se concretizar.

Os primeiros 20 dias da viagem iria passar com uma querida amiga e depois iria começar a viajar sozinha. Nunca tinha experimentado a sensação de passar tanto tempo só e nunca num país tão distinto do meu.
Uma semana antes da viagem, eu estava com tanto medo e tão ansiosa que parecia que eu estava correndo um sério risco de vida se embarcasse naquele avião rumo ao Oriente. Tinha uma parte de mim que estava seriamente decidida a desistir do meu sonhos. Nossa zona de conforto cria várias armadilhas e argumentos que parecem bem convincentes para nos reter na nossa rotina padrão. O medo e a coragem se degladiavam diariamente. O desconhecido assusta a todos. Mal sabia eu que aquilo tudo seria realmente uma experiência de pré-morte. Vejo que uma Jussara morreu naquela viagem para que outra pudesse nascer.

Conhecendo novas culturas ao viajar sozinha

Com o traje tradicional butânes, Jakhar Festival em Buthang.

Viajar sozinha para esses destinos me abriu novos mundos de possibilidades que eu estava muito distante e que o meu contexto anterior nunca tinha me mostrado. Na verdade, o que eu havia visto era que a viagem só pode acontecer em raros momentos do anos e que devemos aproveitar nossa vida apenas nos finais de semana e nas tão merecidas férias depois de o ano inteiro trabalhando duro.

Assista e escute o podcast Conexão Sister

Viajando sozinha e conhecendo os tais nômades digitais 

Conheci muita gente no contexto de viagens longas (2, 5, 8 meses e até anos). Tudo aquilo era muito novo para mim. Parecia um privilégio de poucos, dos ricos e desapegados. Mas depois que fui balizando e entendendo com mais profundidade como tudo aquilo funcionava. Fui reparando as pessoas que decidiam fazer aquele estilo de viagem um modo de vida.

Aventura ao viajar sozinha

Viajantes e motorista em transporte tradicional na Tainlândia, o Tuk-tuk. Na foto: Marina Moraes, Jussara Pellicano e Paul (austriaco que estava viajando por 5 anos com sua bicicleta)

Elas não tinham dinheiro para a viagem inteira como imaginava anteriormente. A maioria delas, tinha uma poupança para emergências. O dinheiro e sustento era conquistado durante o passar dos meses assim como quase todo mundo que conheço. Quem de nós tem o dinheiro para pagar todas as despesas do ano, logo antes do ano começar? Pouquíssimos. A quebra de paradigma é justamente essa: é poder fazer dinheiro e tirar seu sustento DURANTE a viagem. Criar um negócio ou uma nova forma de trabalho que lhe permita viajar e trabalhar ao mesmo tempo. Vi que estava bem mais relacionado a uma escolha de estilo de vida. E claro, “cada escolha, uma renúncia”.

“viajar sozinha, meu SONHO, que LOUCURA, muita CORAGEM. Ainda vou fazer isso um dia…”

Me encantei com esse estilo de vida e vi que minha profissão de designer me permitia isso e que poderia me programar para fazer o mesmo. Voltei para casa com o objetivo de viajar o mundo e me preparei psicologicamente, emocionalmente e financeiramente para fazer uma viagem dessas. Foi praticamente um ano de construção. No meio desse caminho surgiu a companhia de uma das minhas melhores amigas e com certeza a mais antiga.

Quando falava que ia fazer isso para meus conhecidos que ia fazer isso. Existia uma reação padrão: “meu SONHO, que LOUCURA, muita CORAGEM. Ainda vou fazer isso um dia…”. Parecia que as pessoas tinham ensaiado. Eu particularmente gosto muito das loucuras sãs, que não se está fazendo nada de errado, só se está nadando contra a correnteza de padrões que nos são impostos pela sociedade e que poucos tem a bendita coragem de ir contra ela para ser comprometido com seus sonhos. Lembrando que coragem não é a ausência do medo, mas é ir mesmo com ele presente.

Despedida para começar a viajar sozinha

Jussara e sua grande amiga Rebeca em mais uma despedida da viagem.

Iniciamos nosso mochilão em outubro de 2016. O que foi para mim um total de 6 meses na América do Sul voltei para o Brasil por poucos meses e depois embarquei para o velho mundo, para Europa por mais 3 meses e fiquei maravilhada com a conservação do patrimônio e a riqueza artística. Mas várias idealizações sobre ela também se dissolveram.

A vida de quem viaja sozinha

Ao viajar sozinha experimentei o que é ser nômade digital, o que é trabalhar a distância, o que é trabalhar localmente e fazer voluntariado e conhecer processos de trabalho que estão muito distantes de minha vida rotineira. Esse tempo foi muito rico e importante para vivenciar a realidade do sonho de viver viajando.

Não é tão fácil como parece. Nem tudo são flores. Tem montanhas, animais, neve, lagos, desertos, florestas, ilhas, comidas, culturas, templos, gastronomia, arquitetura, pessoas boas e ruins, cosmologia, ritmos, museus, e por último tem você mesmo de um jeito que você nunca se viu antes, em um contato consigo mesmo que é intenso.

Viajar sozinha e as paisagens no caminho

Desierto de Dalí, na Bolívia.

Não é fácil viajar por longos tempos. É preciso quebrar esse romantismo de rede social que só mostra a parte boa. Tem saudades, tem perrengues, tem vontade de voltar, tem pessoas de má índole, tem infecção intestinal, tem falta de energia, internet… Sim acontece. Mas é super enriquecedor.

Os presentes da jornada de viajar sozinha

Viajar amplia rapidamente o seu repertório de referências, multiplica suas perspectivas. É se tornar cidadão do mundo, é se sentir parte de uma irmandade maior. Somos muito mais parecidos do que diferentes. E essa oportunidade de chegar perto de outras culturas de forma respeitosa faz com que os preconceitos e estereótipos que eu nem sequer tinha a consciência que tinha se desmanchem e deem lugar para empatia e a curiosidade de saber um pouco mais.

Amigas viajam pelo Salar de Uyuni na Bolívia

Se você, assim como eu, tiver muito medo de viajar sozinha pela primeira vez, leve ele na bagagem e embarque. Você vai ver que não precisa carregar tanto quilos de medo e vai querer jogar grande parte dele fora rapidamente por não ser mais necessário. O medo só existe se precisamos dele.

Escute o Conexão Sister no Spotify

Agradeço aos que leram até aqui e se quiserem dicas e inspirações de viagens, podem contar
comigo. Faço isso com todo prazer.

*Esse texto, eu, Jussara, publiquei no meu blog pessoal logo após o mochilão para Europa. Está fresco o sentimento que a viagem traz consigo. A Sisterwave estava prestes a nascer, duas semanas depois.

E aí? O que achou? Deixe nos comentários as suas impressões, dúvidas, sugestões, eventuais correções.

Tem vontade de viajar sozinha, mas tem muito medo? Nesse post falamos sobre o medo do primeiro mochilão.

Quer saber como tudo começou? Olha só.

 

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