Sisterwave

Alter do Chão – Uma viagem na Amazônia e seus mistérios

Em alter do chão eu senti raiva porque eu sei muito pouco sobre a região Norte do meu país. Raiva de saber tão pouco dessa parte tão rica do Brasil, tanto na cultura, como na biodiversidade. Raiva por ter descoberto tão tarde essa parte do Brasil que pulsa brasilidade, que possui uma história que aparece de forma tão tímida nos nossos livros de história e também nas opções de turismo do Brasil. Senti que um verdadeiro tesouro estava sendo escondido de nós! Por que? 

por do sol no CAT em alter chão

Por-do-sol no CAT (Centro de Apoio ao Turista) de Alter do Chão. Cada fim de tarde por lá tem um espetáculo diferente.

Por que nossas raízes indígenas e cablocas são tão pouco divulgadas? Por que esse colonialismo voraz e atual que faz com que os próprios indígenas não possam se registrar com seus nomes (ainda nos dias de hoje) e serem coagidos colocarem em seus filhos “nomes de branco”. Essa raiva vem de uma busca por minhas origens e por muito pouco achar sobre esse lado da história brasileira. O lado dos que foram excluídos e oprimidos. Saber que é por querer, proposital, que escondem essas raizes e se desapropria os índios e negros de seus costumes e ritos e se impõe os costumes e crenças dos “civilizados”. Raiva ao saber que a floresta está sendo tomada pelo o agronegócio, que o indígena está sendo morto e expulso da sua terra para dar lugar a exploração desordenada e irresponsável da terra que está impactando todos os ciclos do mundo. Inclusive diversos atrativos turísticos estão sendo ameaçados.

Entrada da Floresta Encantada no vilarejo de Caranazal.

Descobrimento de um novo-antigo Brasil

Descobri um novo Brasil. Quero que seja preservado e que cada vez mais pessoas tenham a oportunidade de vê-lo e sentí-lo em todos os sentidos: ouvir os sons da floresta e do Carimbó, sentir os cheiros das plantas e da terra úmida, ver o pôr-do-sol no Rio Tapajós, sentir os sabores da rica gastronomia amazônica, tocar nas texturas dos artesanatos feitos meticulosamente. 

Quero que possam escutar as histórias que não chegam até nós, da cultura indígena e cabloca. Também saibam de outras colonizações que ocorreram e ocorrem por lá. E que essa parte da história não seja apagada! 

Foi então que eu banhei no Rio Tapajós que refrescou meu coração e essa raiva virou vontade de compartilhar tudo o que vi e vivi por lá para a maior quantidade de pessoas possível!

Vamos lá!?

Cultura indígena em Alter do Chão

Em Alter do Chão, a visão de mundo trazida pela cultura indígena continua muito forte. Felizmente, é perceptível a sua influência em diversos aspectos da vida: arquitetura, gastronomia, hábitos, cuidado e integração com a natureza entre outros.

É importante lembrar que a cultura indígena é viva e que está vivendo contantes transformações e se adaptando as novas realidades. O índio não deixa de ser índio por usar o celular e roupas ocidentais. Porém existem diversos aspectos de estrutura constantemente ameaçada que faz com que esses povos se preservem como etnia. É perceptível uma forte colonização que tem por fim desenraizar o índio de suas terras e valores. Pude vivenciar com intensidade essa cultura ao ficar em casas de famílias indígenas.

O Pará

O Pará é um estado gigante que possui suas sub-regiões internas com suas caracterísistcas climáticas e culturais próprias. Tive a oportunidade de conhecer dois paraenses que deram uma verdadeira aula sobre a cultura paraense, viva e pulsante.

Ao longo do ano há várias manifestações culturais na região. Que mostram um sincretismos que mistura as culturas indígenas, caboclas e européias.

Sairé

O Sairé é um típico festejo santarenho que atrae turistas de diversas parte do mundo. Ele ocorre no mês de Setembro, período da seca, em que as praias de Alter do Chão estão visíveis. A celebração gira em torno de disputas dos botos: o Rosa e o Tucuxi (de tom mais acinzentado). Muitas manifestações culturais e histórias populares giram em torno do boto. Ambos existem na natureza, porém há todo um misticismo por de trás desses seres.

A festividade tem duração de três dias, ocorre no Çairodromo. Entre cantos, danças e desfiles, ococcre uma disputa de qual dos botos foi o melhor. A festividade mistura rituais religiosos e profano resultado de toda mistura que ocorreu entre índios, cablocos, portugueses e americanos.

Gastronômia em Alter do Chão

A gastronomia Paraense é riquíssima. A presença dos recursos locais é muito forte. A mandioca e derivados da planta são quase que onipresentes.

Tacacá – É como se fosse uma soupa bem peculiar. Ela é feita de tucupi (caldo de mandioca que pode ser azedo ou doce), goma de tapioca cozida, jambu (plata típica da região conhecida pelos seus efeitos de deixar formigando a língua e por ser muito bom para o estômago) e camarão seco.

Manissoba – Esse prato é um verdadeiro ritual. Ele é feito com a folha da mandioca (maniva) que crua é venenosa. Ela fica conzinhando durante uns 5 dias até estar pronta para ser consumida. A ela são acrescentadas diversas partes e tipos de carne.

Vatapá – É uma comida típica afro-brasileira, pode ser de camarão ou frango, misturada com farinhas que podem ser de trigo, de rosca, fubá, com temperos de pimenta, gengibre, cebola, alho, misturados com azeite de dendê e leite.

Mingau – Existem diversos sabores de mingau: de tapioca, milho, jerimum (parente da abóbora),

Frutas típicas – Taperebá, graviola, muuba, cupuaçu, cacau, açaí, castanha do Pará, castanha de cajú, bacaba, bacuri, pupunha, tucumã, muruci, piquiá… (Essas reticenças são longas)

Chopão – O que você acha que é se nunca ouviu esse nome? Esse é um dos nomes de coisas mais diversos regionamente no Brasil. Ele é o tal din-din, sacolé, chup-chup, geladinho, gelinho… E devem ter outras variações por aí.

Pato no Tucupi – Esse eu não esperimentei mas é super famoso na região.

Peixes locais – Tucunaré, pirarucu, tambaqui, dourada, pescada, filhote, mapará…

Período das Águas e período da seca

Em Alter do Chão possuem duas estações muito bem definidas: o período das águas (inverno, que vai de janeiro a junho) e o período da seca (verão, que vais de julho a dezembro). As características da região mudam bastante nesssas duas épocas. O que permite à viajante vivenciar diferentes angulos da paisagem e clima amazonense. Há passeios que só podem ser feitos apenas em determinadas épocas.

Fui no inverno, momento em que as praias estão submersas pelas águas. Em que é possível ver apenas as palhoças das tendas das praias, todo o resto está coberto. Nessa época é tempo de conhecer as paisagens que só tem a sua magia por conta da presença das águas.

Floresta Encantada em Alter do Chão

A Floresta Encantada em Alter do chão é um dos passeios que só podem serem feitos na época das águas, simplesmente porque na época da seca, o volume da água diminui e onde era água passa a ser areia.

Entrada da Floresta Encantada e seus espelhos d’água

áTrata-se de um igarapé de beleza estonteante. Se recomenda ir no início ou no final do dia por conta o ângulo com o sol que faz com que o espelho d’água fique mais nítido. É possível remar ficar em um momento de profunda contemplação com a vegetação nativa.

Para ir é preciso ir para a comunidade de Caranazal. Lá possuem os canoeiros que fazem o passeio. É em torno de R$ 30 reais a canoa e dura em torno de 1h.

Flona

Ah… A Flona! Passeio altamente recomendado que é possível visitar as florestas primárias da Amazônia. O que siginifica que é um trecho da floresta original, que não foi reflorestada. O passeio é longo, 12 km. A trilha é uma aula sobre a floresta e sua riqueza.

Nele é possível avistar as Samaúmas (mafumeira, sumaúma) que são árvores gigantes que são consideradas sagradas. Por toda a sua imponência, a árvore é uma das

Ele pode ser adquirido a partir de barqueiros da região. Quanto mais pessoas, mais barato fica. Isso pode ser um obstáculo para quem viaja sozinha. Porém, sempre tem os “paranauês”. Descobri que há uma associação de barqueiros locais, e que eles conversam entre si, para alocar as pessoas que estão separadas. Cada trecho é em torno de 50 reais.

Belterra perto de Alter do Chão

Voltando de Flona para Santarém, decidimos parar em Belterra. Símbolo da colonização americana na Amazônia, a cidade feita nos anos 20 do século XX. O projeto de Henry Ford, era  explorar a borracha natural da região feita a partir da seringueira. Para subsidiar a fabricação de pneus de carros para a indústria de carros que comandava.

Ford queria encontrar uma alternativa para baratear os seus custos de borracha natural. Viu na Amazônia um grande terreno para fazer as suas experimentações. Ford trouxe consigo os seu modelo de gestão, o fordismo, que é baseado em padronização de processos e repetição deles.

As casas e monumetos de Belterra são padronizados com as cores verde e branco. Foi engraçado que coincidentemente no dia em que conhecemos a cidade, eu estava vestindo exatamente essas cores.

Paróquia de Santo Antônio de Pádua – Toda a cidade é pintada de branco com verde.

O projeto de Ford em Belterra, foi muito contraditório. Ao mesmo tempo que trouxe muita inovação para a região, com estrutura médica e escolas. Também chegou com um modelo colonizador que fez com que todas as casas fossem no modelo americano, de madeira, a formatos bem parecidos. Queria que as pessoas deixassem de comer mandioca e comessem soupa de espinafre enlatadas.

Desconsiderou a sabedoria local sobre a planta e fez a monocultura de seringueira e o terreno. O projeto de Ford na Amazônia durou 20 anos. Pois o ciclo das serigueiras foi substituído pela borracha a partir do petróleo e Ford tirou suas ações da Amazônia.

Você sabe a diferença entre amazonense e amazônida?

A diferença é que a pessoa que nasceu no Estado de Amazonas é amazonense. Já o amazônida é quem nasceu na região da Floresta Amazônia. Ou seja, o amazonense com certeza é amazônida, mas o contrário já não é verdade.

Você prefere 100 ou 7?

Essa é a diferença entre ir de táxi ou ir de ônibus do aeroporto de Santarém até Alter do Chão.  Existe a lógica de que viagens são muito caras. Mas existem diversas formas de se viajar. É claro que ir de táxi é mais confortável. Mas existem outras formas de se ir e que são mais econômicas.

O mesmo acontece com os passeios, é interessante sempre, tentar pesquisar bastante os preços e custo benefício. Dica das mais valiosas: quem geralmente que sabe a forma de você ir mais econômica e segura é justamente quem mora lá. É por essas e outras que nós da Sisterwave valorizamos tanto a conexão entre a mulher viajante e a moradora local. Uma sempre apoiando a outra.

E aí? O que achou? Deixe nos comentários as suas impressões, dúvidas, sugestões, eventuais correções.

Tem vontade de viajar sozinha, mas tem muito medo? Nesse post falamos sobre o medo do primeiro mochilão.

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