A sensação de dar um mergulho no mar, tomar um banho de cachoeira, chegar ao topo de uma montanha, ouvir o som dos pássaros, sentir o cheiro da floresta, observar animais livres em seus habitats e estender a vista pelo horizonte amplo. Vivenciar essas formas de bem-estar é reconhecer o poder da natureza. Criado pela Organização das Nações Unidas, o Dia Mundial do Meio Ambiente é celebrado em 5 de junho. Dentro da premissa de que cuidamos daquilo que amamos e só amamos o que conhecemos, o ecoturismo aproxima as pessoas da natureza e contribui para a conscientização sobre a importância da preservação dos recursos naturais.
Além disso, o ecoturismo reúne as características ideais para viagem no momento atual: lugares tranquilos, sem aglomerações e com inúmeras possibilidades de experiências ao ar livre desfrutando de riquezas naturais. Com dimensão continental, o Brasil proporciona uma enorme gama de possibilidades dentro do ecoturismo – cachoeira, ilha, rio, montanha, praia, zona rural. E não importa em que região você mora, é possível encontrar refúgios naturais próximos de qualquer cidade brasileira.
De acordo com o diretor executivo da Associação Brasileira de Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta), Luiz Del Vigna, há uma demanda represada por turismo e em especial com uma busca efetiva pelo contato com o ambiente natural. Ele ressalta que o Brasil é o país que reúne as melhores condições do mundo para ter uma economia verde de vanguarda, da qual o turismo seja parte integrante. “O Brasil apresenta uma situação bem apropriada para o turismo de natureza reconhecido mundialmente. O brasileiro, de maneira geral, é muito praiano e ligado ao nosso litoral, que tem 8 mil km de extensão. Mas o Brasil é composto por 8,5 milhões de km2. Dentro desse universo, há um espaço desconhecido em uma área majoritariamente tropical, que permite estar ao ar livre o ano inteiro”, comemora.
Vigna ainda comenta que há uma predominância feminina no setor, seja em grupos de viagem, ou chefiando empresas do ramo. “De certo modo, esse é um universo bastante feminino. Constatei pela minha experiência empírica que as mulheres são mais corajosas”. O diretor da Abeta ressalta os benefícios para a saúde, tanto física quanto mental, do contato constante com a natureza, mas chama a atenção para os cuidados necessários ao adentrar ambientes naturais, uma vez que o número de acidentes registrados tem aumentado consideravelmente. “Por isso, valorizamos o papel do condutor como um intérprete da natureza, não só mostrando o caminho, mas traduzindo o mundo natural para as pessoas. Perceber o valor mais profundo da natureza ajuda no processo de recuperação ecossistêmica que precisamos para as próximas gerações”, conclui.
Conversamos com três viajantes que vivem em busca de mais contato com a natureza. Uma característica é comum: o amor pelo meio ambiente começou cedo, incentivado pela família. Desde crianças participando de passeios, caminhadas e acampamentos, Bárbara, Fernanda e Luiza mantêm até hoje o encantamento e a reverência à natureza.
Alma aventureira
Enquanto passava uma temporada morando nos Estados Unidos, Fernanda Diva foi convidada por uma amiga a fazer hiking. A experiência foi tão boa que no dia seguinte ela foi comprar roupas mais apropriadas para a trilha e a atividade virou rotina semanal. Voltando ao Brasil, criou um grupo de trilha. “Uma coisa é entrar em um parque com segurança, que tem muita rotatividade de pessoas, mas se embrenhar no meio do mato sem ninguém e sem sinal é outra coisa, porque podem acontecer acidentes, independentemente da sua experiência”, orienta.
Junto com os amigos, Fernanda percorreu praticamente todas as trilhas do Rio de Janeiro entre 2015 e 2016. Em 2017, começou a viajar para fazer trilhas pelo Brasil em busca de aventuras na natureza. Em 2019 criou o instagram para compartilhar fotos e dicas de trilhas. Com a pandemia, criou um curso de preparação para trilha para promover independência e conscientização sobre preservação ambiental. “A gente pode se preparar hoje, planejar as viagens, preparar-se fisicamente para poder ir assim que estiver liberado”, incentiva.
Durante a pandemia, Fernanda percebeu que a forma de manter esse contato com a natureza era buscar trilhas menos conhecidas e mais desafiadoras e, assim, fugir das multidões. Em janeiro, por exemplo, viajou para Itatiaia e pela Serra da Canastra, em Minas Gerais, e não encontrou ninguém nas trilhas.
De fala rápida e mente acelerada, Fernanda conta que praticar atividades ao ar livre acalma a mente, além de ter contribuído para a superação de graves problemas de saúde. “Para mim, a natureza vem muito num processo de cura e autoconhecimento. Eu já passei por uns maus bocados na vida e estar em contato com a natureza me fez muito bem. Foi realmente onde eu encontrei a minha cura, a minha paz, a minha válvula de escape, minha paixão realmente”. Depois que um acidente quase a deixou paraplégica, Fernanda comemora cada evolução que conquista ao fazer trilhas. “Eu sinto que sou eu mesma quando estou no mato. A energia da natureza é muito pura, então eu consigo estar completamente feliz. Sinto-me livre pra ser quem eu sou, para sentir e me expressar, sinto-me acolhida”, resume.
Viagens de conexão
Nascida em Brasília, Luisa Galiza começou na adolescência a fazer ecoturismo na Chapada dos Veadeiros. Depois de anos viajando atrás de cachoeiras, montanhas e praias, decidiu viver da produção de conteúdo para o blog. Para ela, viajar é mais do que conhecer um lugar, é uma experiência transformadora. “O trekking é uma ferramenta de autonomia através da conexão visceral com a natureza, do contato com a nossa essência”, analisa.
Para Luisa, nos tornamos mais corajosas e confiantes ao nos percebermos parte integrante da natureza e nos depararmos com os desafios e singelezas que uma trilha pode proporcionar. “Percebemos que é preciso de pouco para ser feliz, entramos em contato com nossas limitações, aprendemos a lidar com o imprevisto e encontrar o equilíbrio entre o físico e o emocional. É uma vivência transformadora na própria qualidade de vida”. Luisa chama a atenção para o fato de que muitas pessoas buscam chegar a determinados lugares apenas para garantir a foto famosa e acabam deixando de vivenciar o que o local proporciona. “É preciso tempo e sensibilidade para parar um pouco e registrar as sensações que o lugar provoca. Viver o lugar da viagem na natureza, desconectar do sinal e se conectar mais com o presente”, sugere Luisa.
Descobertas naturais
Desde a adolescência, Bárbara Lins une curiosidade ao amor à natureza e vai atrás de lugares a serem descobertos em busca de bem-estar ao ar livre. “Sem muito dinheiro, o que me restava era descobrir coisas ao meu redor. E assim descobri várias cachoeiras, cavernas, grutas, cânions, trilhas em Brasília e no Cerrado”, relembra. Toda essa informação chega ao público através do instagram. Para ela, as restrições de deslocamento provocadas pela pandemia fizeram com que muitos brasileiros descobrissem e valorizassem o próprio quintal. “Como nosso país é muito grande, não tem tumulto, não tem aglomeração, é ao ar livre. Então é um turismo que tem uma segurança muito maior do que ir para lugares fechados, como shoppings e museus, por exemplo”, avalia.
Entre as dicas para começar a explorar o mundo das trilhas nesse momento de pandemia, Bárbara orienta planejamento: mapear o lugar, traçar possíveis problemas para evitá-los, levar lanches para não ter que parar em muitos lugares, separar dinheiro de pedágio, se houver, para evitar mais contatos e reduzir a intensidade do percurso para evitar acidentes. “Evitar que algo aconteça e seja preciso recorrer a hospitais, que já estão saturados de pessoas em razão da pandemia. Não é hora de testar suas habilidades até o limite. É importante ir, ter contato com a natureza e se reconectar, mas não acho que seja o momento de se colocar em risco. Ir mais pela conexão e bem-estar do que pela adrenalina”, avalia.
Quando perguntada sobre qual descoberta mais a surpreendeu, Bárbara não tem dúvida: “o último destino é sempre o mais legal”. Nesse caso, ela se referia a uma fazenda em Brazlândia, no Distrito Federal, que tem um cânion com quatro cachoeiras interligadas. “Foi uma surpresa e uma gratidão tão grande ter aquilo no Cerrado. Era eu, sozinha, num sábado, numa cachoeira. Era seguro e perto de casa. Eu falo de turismo no DF o tempo inteiro e desconhecia esse lugar. Isso mostra que tem mais espaços como esse a serem descobertos”, comemora Bárbara já com a expectativa da próxima surpresa que a descoberta seguinte vai proporcionar.
Na comunidade Sisterwave você encontra muitas anfitriãs e sisters em destinos de ecoturismo. Conheça algumas:
– Larissa e seu redário repleto de cultura indígena cercada pela bela natureza amazônica de Alter do Chão-PA
– Nora e sua morada em uma das capitais do ecoturismo brasileiro: Brotas-SP
– Monica, que transformou seu amor pela aventura em trabalho com ecoturismo em Carolina-MA
– Lucienne e suas casas de praia em Mucuri-BA